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terça-feira, 1 de outubro de 2024

Sete anos após o lançamento, em 2017, da tradução completa de Folhas de Relva

Em 2017, dois anos antes do bicentenário do nascimento de Walt Whitman, ocorrido em 1819 (31/05), fiz o lançamento da minha Tradução Completa da Nona e Última Edição de Folhas de Relva, em formato impresso, no bar e restaurante Carmelita, em Porto Alegre.

Para isso, criei uma página de evento no Facebook:

 

Após o evento, fiz um relato das principais questões discutidas durante as interações com as pessoas que compareceram, texto que publico aqui abaixo.

Antes disso, lembro a todos, como podem ver na coluna lateral e na minha página de livros, que também publiquei a obra completa de Walt Whitman em formato digital Kindle, via KDP, que é a plataforma para autores independentes da Amazon.

Sobre a memorável noite de lançamento de minha tradução de Folhas de Relva, de Walt Whitman, no Carmelita.

Caros amigos, após essa noite de lançamento, falando com quem esteve presente, olhando as imagens, recebendo feedback, dialogando com o filósofo Hingo Weber, que sempre tira uma pergunta nova da cartola, como bem me disse meu amigo Darlou Oliveira, veio essa necessidade de escrever sobre o acontecido.

Ainda mais que não foi uma simples entrega de livros e assinatura de autógrafos. Foi muito mais. Principalmente porque começou com a chegada de todos que foram formando um círculo ao redor do tradutor e dos livros, e naturalmente as perguntas foram surgindo, tanto perguntas técnicas de publicação e editoração [neste caso uma publicação independente, ou seja, sem uma editora que a patrocinasse, na qual trabalhei por 29 anos, até chegar nesta edição em volume único do texto da Edição do Leito de Morte de 1891-92 (Deathbed Edition), que contém toda a obra do poeta, no formato preferido e recomendado por ele para edições futuras; eu supero inclusive Whitman em tempo de produzir a edição por meios próprios, pois o poeta fez isso por 26 anos, de 1855 a 1881, ano em que uma editora assumiu a publicação; também sou responsável pela execução do projeto gráfico e tipográfico do Hingo Weber, que me auxiliou nesta edição] quanto sobre os temas que emergem na obra do maior poeta norte-americano, pai da poesia nacional nativa dos EUA, que influenciou em muito as gerações seguintes de poetas e escritores tanto nos Estados Unidos (Ezra Pound, que reconheceu em Whitman seu pai literário, T. S. Eliot, Jack Kerouac, Allen Ginsberg, para citar apenas duas gerações) quanto em muitos outros países, como Federico Garcia Lorca, na Espanha, Fernando Pessoa, em Portugal, José Marti, em Cuba, Pablo Neruda, no Chile, e outros na América Latina e Europa.

Aliás, é digno de nota o aparecimento de um “Estranho”, que veio ao bar pela primeira vez, segundo ele me disse, viu os livros sobre a mesa, se aproximou, pegou um exemplar e ao descobrir que era a tradução de “Folhas de Relva”, de Walt Whitman, citou a ligação desse poeta com a Geração Beatnik, de quem entendi ser ele admirador (grupo de escritores e poetas que apareceu logo após a segunda guerra mundial nos EUA, anti-materialista e anti-conformista), a influência do poeta sobre Jack Kerouac, que escreveu o romance “On The Road” (Pé na Estrada, no Brasil); foi aí que lembrei do poema de Whitman “Song of the Open Road” (Canção da Estrada Aberta), um dos mais famosos da obra, que começa com estes versos:

 

“A PÉ e tranquilo me entrego à estrada aberta,

Saudável, livre, o mundo à minha frente,

A longa trilha de terra à minha frente levando aonde eu escolher.”

 

Que convida o leitor a sair em busca do ar livre, de novos lugares e novas pessoas.

Chamei o cidadão de “Estranho” porque logo antes do evento eu tinha publicado este poema na página, em que o poeta diz ao estranho que passa que não se acanhe de vir conversar se assim o desejar, e que o poeta não se recusaria a falar com ele. A exemplo do próprio poeta, me levantei e fui falar com o “Estranho”, que disse se chamar Cristóvão Colombo. Outra coincidência. Também me apresentei e disse que Whitman escreveu um poema chamado “Prece de Colombo”, muito intenso e que relaciona as dificuldades e sofrimento do navegador com sua própria experiência. Encontros assim estão além de qualquer casualidade.

Como vocês verão na obra, o poeta aprecia muito estar no meio da multidão, rodeado de gente, trocando olhares, conhecendo pessoas, viajando, atravessando diariamente na Barca do Brooklyn, passagem retratada no poema de mesmo nome. Na época de Nova York, ele assistiu a muitas peças de teatro, era fã e conhecedor dos grandes atores da época e por vinte e cinco anos assistiu a todas as óperas apresentadas nessa cidade.

Por isso recomendei à minha amiga Elisa Lucas, atriz, o poema “Vocalismo”, em que ele trata do exercício de dizer palavras e o que isso significa.

Nessa época, ele também frequentava bares e restaurantes em Nova York, onde se reuniam artistas da época, poetas, escritores, pintores, e também jornalistas, as pessoas que estavam de alguma forma ligadas à cultura. Sendo assim, fazer o lançamento desta obra num local como o Carmelita foi coerente com a história do poeta também, pois é um ambiente que respira cultura, com shows musicais e lançamento de livros e muitas atividades na área cultural. Local recomendado com muito carinho pelo meu amigo poeta Ronald Augusto. Meus parabéns à Bia Cardozo e ao Paulo Pio, que nos receberam com muito carinho. E um agradecimento ao Rivail Teixeira pela atenção e fotos.

Posso não lembrar de tudo, naturalmente, mas uma questão importante colocada a mim foi se Whitman teria uma sensibilidade feminina e qual a razão para o poeta atrair a atenção das mulheres. Respondi que com certeza o poeta reconhece em si uma sensibilidade feminina em vários momentos. E que para mim a atração dele para o feminino se dá por uma defesa da liberdade e da equanimidade, da igualdade entre os sexos.

Citei que feministas ainda no século XIX reconheceram o apoio que Whitman dava a esse movimento, lembrando que ele foi um poeta tardio, começou a escrever poesia aos 37 anos, e que antes disso tinha militado na política por 20 anos e que era jornalista desde o fim da adolescência, ali pelos 17 anos, sempre defendendo causas sociais, contra a escravidão, e pela melhoria das condições de vida da população, inclusive a imigrante, pois ele era de Long Island e frequentou Manhattan até pouco depois de 1860, quando foi para Washington por causa da Guerra de Secessão.

Lembrei do poema “Revelado dos Refolhos”, em que o poeta descreve a origem do homem na mulher. E de “Eu canto o corpo elétrico”, em que trata em detalhes do corpo humano. Folhas de Relva, principalmente por esta questão da abordagem livre ao corpo humano, sofreu várias tentativas de censura, mas o poeta nunca cedeu, e manteve sua obra íntegra até o fim (um dos motivos de ter que bancar as edições com recursos próprios, porque as editoras não queriam se arriscar a perder dinheiro). Assim, democracia, liberdade e igualdade são temas fortes e recorrentes na obra.

Outra pergunta foi sobre a História dos EUA na poesia de Whitman. Como isso se dá. A questão é que até meados do século XIX, a poesia norte-americana ainda seguia os modelos tradicionais importados da Europa (formas tradicionais com estrofes e rimas, sonetos, por exemplo, e outras).

E Whitman, apontado como o inventor do verso livre (que prefiro chamar de verso branco, no sentido de não rimado no fim), que ele usa para descrever o mundo contemporâneo à sua volta. A realidade imediata em constante mutação não cabia em formas fixas. Junte a isso o fato de que Whitman tinha um pendor ou uma sorte de estar próximo de acontecimentos e pessoas históricas de seu país (quando criança foi pego no colo por um herói da Revolução Americana, a guerra de independência).

Ele nasceu em 1819, e cresceu próximo da geração que participou da guerra de independência, participou ativamente da política norte-americana por 20 anos, até se desiludir e se voltar para a poesia, acompanhando tudo isso pela atividade jornalística.

Por volta dos 40 anos de idade, no início de 1861, ele vai para Washington porque tinha começado a Guerra de Secessão (os estados confederados do Sul, escravocratas, tinham se rebelado contra a União, principalmente os estados do Norte, que queriam o fim da escravatura). O motivo primeiro do poeta era que um dos irmãos dele tinha se alistado para lutar pela União e tinha se ferido (descobriu depois que foi sem gravidade).

De qualquer forma, Whitman foi para Washington, se ofereceu como enfermeiro voluntário e desempenhou essa tarefa até 1865, sempre doando seu tempo e o que sobrasse de seu parco ordenado para comprar itens de escrita e alimentos para os soldados. Ele atendeu cerca de 80 mil feridos durante esse tempo, de todas as partes do país. Também perambulou pelo front da guerra, conhecendo de perto o sofrimento e a destruição. Disso resultou o livro “Repiques de Tambor”, um dos mais densos e intensos de Folhas de Relva.

Logo depois da guerra, quando os dois objetivos principais da União foram alcançados, que foram manter a união do país e terminar a escravidão, Whitman também estava próximo quando Abraham Lincoln, no início de seu segundo mandato, foi assassinado. Assim Whitman escreveu uma das mais lindas elegias da língua inglesa em homenagem ao Presidente Lincoln, que está no livro “Memórias do Presidente Lincoln”: “Da última vez que lilases floriram no pátio”. Desse livro também é o poema “Oh Capitão! Meu Capitão!”, muito famoso em todo lugar.

Lembro também que minha querida amiga Ari Ana perguntou se eu tinha poemas favoritos; respondi que tendo trabalhado igualmente em todos os poemas, eu gostava de todos, mas que me surpreendi com os dois livros finais que são os anexos a Folhas de Relva, escritos já no final da vida do poeta, após 1881, porque eu achava que haveria uma queda na qualidade da poesia dele, especialmente no último, quando ele estava literalmente de cama, adoentado (muitas das doenças ele adquiriu nas longas jornadas nos 40 hospitais improvisados em Washington, quando foi o Enfermeiro de muitos feridos da guerra; conferir o poema “O Enfermeiro”, pág. 300, um retrato do próprio poeta).

Minha surpresa é que não houve queda de qualidade, ao contrário, os poemas podem até ser mais curtos, mas há uma densidade maior, uma maior intensidade e profundidade. Fiquei estupefato com isso. É tocante mesmo.

Pra finalizar, mas não menos importante, foi uma maravilha receber o carinho da presença de vocês; como havia dito, me senti muito tranquilo e feliz por estar justamente rodeado de gente amiga, calorosa, carinhosa, num ambiente acolhedor. Foi um evento lindo, edificante e motivador. Valeu muito a pena todo o esforço, e vale cada vez mais. Obrigado a todos, forte abraço.

“Pensamento

DE Igualdade—como se isso me prejudicasse, conceder aos outros as mesmas chances e direitos meus—como se não fosse indispensável aos meus próprios direitos que os outros possuam os mesmos.”

(pág. 277 do livro impresso, poema do livro À Beira da Estrada)

***

Coloco aqui também a entrevista em vídeo que concedi ao Hingo Weber para preparar o lançamento da obra:


 

 

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

A Megera Domada na tradução de Gentil Saraiva Jr

Este é a minha nota sobre minha tradução que publiquei no site da Amazon BR:

Explicando alguns detalhes sobre esta tradução: A Megera Domada (The Taming of the Shrew) teve sua primeira publicação no Folio de 1623 (o primeiro, que foi a primeira coletânea publicada com 36 peças de Shakespeare, feita por seus colegas em sua homenagem), sendo este texto considerado o oficial para esta peça; este é o texto fonte para esta tradução, recomendado por estudiosos e pelas edições consultadas, especialmente a da Oxford (1988), da obra completa de Shakespeare e a de The Arden Shakespeare (2003), por ser provavelmente originado dos papéis do autor, e não de um ponto de teatro (prompter) ou rascunho (foul copy). Esta edição conta com um prefácio do tradutor e mais de 160 notas de rodapé, explicativas e críticas. É uma edição crítica anotada.