Escrevi esta enumeração de maneiras de como perder o seu inglês, fazendo paródia ao contrário de Paulo Rónai, o brilhante autor do livro Não Perca o Seu Latim (e outros, como A Tradução Vivida, Escola de Tradutores, etc); esta paródia enviesada é dedicada àqueles que de algum modo tem preguiça de aprender ou manter-se estudando inglês, ou que tem dificuldade de assumir que detestam essa língua e, não obstante, passam anos perturbando os professores em sala de aula (geralmente por serem obrigados de algum modo a continuar fazendo algo que odeiam, como levantar às seis horas da manhã, por exemplo, para ir pra escola no inverno).Assim, divirtam-se - se puderem - com essa
psicologia reversa do aprendizado de inglês (não há nenhuma ordem de prioridades nesses conselhos; estão escritos à medida que apareceram em minha mente; quem quiser fazer o contrário, é simples, é só inverter o conselho; de qualquer modo, pra mim, tanto faz, pois você que está lendo não é meu aluno).
Vamos à lista de maneiras de como perder o seu inglês:
Não estude todos os dias.
Não estude regularmente (no mínimo duas vezes por semana, ou três).
Não estude pelo menos cinco minutos de inglês por dia.
Não leia algo em inglês todos os dias.
Não ouça algo em inglês todos os dias, como, por exemplo, músicas ou trechos de filmes.
Não releia o material apresentado na aula anterior antes da próxima aula.
Não revise a gramática apresentada na aula anterior também, nem pesquise mais sobre o assunto.
Não ouça músicas em inglês todos os dias.
Não veja filmes em inglês com frequência.
Não assista a filmes com o som original em inglês.
Sempre assista a filmes de língua inglesas dublados em português.
Nunca confira o título original do filme em inglês.
Nunca traduza músicas em inglês que você por acaso escute e tenha interesse na letra. Lembre-se,
como diz o personagem do filme Matrix ao comer aquele belo bife: A ignorância é um êxtase!
Não pergunte ao professor em sala de aula o significado de expressões que desconheça em inglês.
Não tente pronunciar as palavras corretamente.
Persista cometendo erros de pronúncia e atazanando seu professor, afinal de contas, ele merece ser punido por achar que você é uma pessoa inteligente e que vai aprender inglês facilmente.
Rode em inglês no final do ano. Seus pais merecem pagar as mensalidades de sua escola de inglês por dez anos e você não aprender nada. Afinal de contas, quem eles estão pensando que você é, Einstein?
Falando nisso, não preste atenção á aula. Fique desenhando no livro.
Perturbe os seus colegas, eles também não merecem aprender nada, já que você não aprende e não quer aprender.
Não tente memorizar as palavras.
Não tente memorizar frases.
Não tente memorizar trechos de música ou filmes.
Especialmente não tente memorizar diálogos inteiros de filmes (você pode nunca mais conseguir esquecê-los).
Outro método de aprendizado a ser evitado: não assista ao mesmo filme com o som original em inglês mais de uma vez; e especialmente, não assista ao seu filme preferido muitas vezes, tipo cinco, dez, vinte, cinquenta ou mais vezes (tive alunos que cometeram o erro de assistir ao filme predileto mais de 100 vezes; acabaram praticamente decorando todas as falas do filme, no original). Se você assistir o mesmo filme vezes demais, há um perigo terrível de você nunca mais conseguir pronunciar as palavras de maneira errada, como você adora!
Não use a tecla SAP caso você tenha acesso apenas á tv aberta, pois essa tecla na sua tv mostra o som original de filmes estrangeiros (
SAP =
Second Audio Program, ou seja, é um dispositivo que transmite um
Segundo Programa de Áudio na tv, geralmente um canal mono para um som alternativo, que normalmente é o original).
Não tente pensar apenas em inglês.
Não tente traduzir tudo que você lê ou escuta para o inglês. Isso pode ter consequências terríveis.
Não leia livros em inglês.
Não leia textos em inglês.
Não faça exercícios de tradução, se você tem alguma aptidão literária.
Não leia poemas.
Contos, então, nem pensar (imagina conseguir entender uma estória inteira em inglês; seria um desastre).
Não pergunte aos colegas sobre palavras novas.
Não adquira vocabulário novo todos os dias.
Não crie glossários (listas de palavras por classe ou outra forma qualquer de organização).
Não anote o significado de palavras novas ditas em aula ou encontradas em qualquer outro lugar (você precisa garantir que não vai aumentar seu vocabulário; vá que você precise disso no futuro, e chegue lá já sabendo!).
Outro cuidado especial: não mantenha em mente que as provas de vestibular em inglês exigem conhecimentos sobre a gramática da língua, contexto do assunto (interpretação de texto) e vocabulário (se você aprende demais pode correr o risco de passar no vestibular; uma vez uma aluna minha, que nem era do tipo CDF, gabaritou uma prova de inglês do vestibular da UFRGS; você não vai querer isso, vai?).
Não queira saber o significado desse monte de palavras inglesas que aparecem em todos os lugares em que você vai ou acessa (
shopping, store, off, app, smartphone, iphone, ipad, notebook, laptop, blog, site, web, internet, facebook, plus, software, hardware, hd, caps lock, num lock, page down, page up, print screen, scroll up, scroll down, pause, break, insert, home, end, delete, play, media, control, mouse, click, layout, keyboard, earphone, etc.)
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Caso você tenha mais algum método ou forma de perder o seu inglês, ou mesmo um que você use para desaprender alguma outra língua, por favor, adicione via comentários.
Você pode achar que estou sendo malévolo ou mal intencionado, mas eu juro que vi alunos durante muitos anos utilizando um ou mais dos métodos acima para evitar de aprender ou desaprender inglês em sala de aula.
Certamente por ter algum motivo para odiar estar ali. Sempre tentei tornar a experiência de aprender inglês satisfatória para meus alunos, mas nem todos curtiam.
Quando você é obrigado a fazer algo que não gosta, vai inventar uma maneira de boicotar isso. Infelizmente, nem todos podemos fazer somente o que gostamos, e temos que aprender a conviver com isso. Aprender a lidar com a insatisfação, talvez o maior problema real da humanidade, é um exercício diário.
E outro motivo que me levou a escrever este texto foi a chamada psicologia reversa: quem sabe observando todos esses recursos do ego para boicotar o aprendizado a pessoa aprenda a superá-los?
Ou talvez não! Cada um tem um caminho. Pelo menos é bom conhecer esses truques de sabotagem da própria aprendizagem.