terça-feira, 20 de julho de 2010

O engodo das brigas dos candidatos

Quando eu era criança lá em Minas Gerais, acompanhei uma encarniçada disputa eleitoral, que dividiu a cidade entre "pés-moles" e "pés-duros", termos que definiam os eleitores que estavam a favor de cada partido, pois na época só havia dois.

Até amigos e familiares que estivessem defendendo bandeiras partidárias diferentes se tornavam inimigos. Meu pai dizia pra eu não falar com meus primos, pois meu tio, pai deles, era "pé-duro". Sinceramente, não tenho a menor ideia hoje do que significavam esses termos.

Mas o que interessa mesmo é que, no final dessa campanha, em que pessoas discutiam e brigavam durante os comícios, nos quais os candidatos e seus correligionários acusavam e achacavam a honra um do outro, numa bela tarde ensolarada eu entrei num barzinho e vi os dois candidatos papeando alegremente, enquanto tomavam alguma coisa.

Eu fiquei chocado, e nem consegui pensar direito sobre aquilo. Então era assim: enquanto a massa em geral se digladiava em defesa de seus candidatos, e enquanto eles mesmos se colocavam como inimigos ferrenhos publicamente, na privacidade de suas vidas eles eram simplesmente bons amigos, pra não dizer parceiros.

E eu pensei comigo depois: onde está a inimizade entre eles, onde está a briga, a oposição, se fora das vistas públicas eles estão tomando cafezinho juntos?

Pois é, tudo isso me lembra o que está acontecendo agora, com os dois principais candidatos a presidente se acusando publicamente, se xingando, enlameando a honra uns dos outros (os candidatos a vice também participam), com coisas impublicáveis em qualquer meio sério de expressão, até porque eles não apresentam provas para suas acusações.

Tudo isso só pode ter um sentido: enganar a população, porque enquanto todo mundo presta atenção às mútuas acusações, o que realmente importa ninguém discute, que é o plano de governo, as ações específicas que os postulantes, se eleitos, vão ter que tomar para a saúde, a educação, a segurança pública, o combate às drogas, o resgate da infinidade de crianças nas ruas, principalmente aquelas viciadas em drogas, num país que as proíbe (as drogas), e muitas outras coisas importantes para a nação.

Enquanto não apresentarem isso, o que se vê é cortina de fumaça para esconder a falta de plano de governo e da demonstração séria do que pretendem fazer.